Quando a artroscopia de quadril pode não funcionar?
Essa é uma questão muito importante e muito questionada no consultório.
"Quando a artroscopia de quadril pode não funcionar para o tratamento do impacto femoroacetabular?"
Primeiramente temos que definir o que é a falha da artroscopia do quadril para esse tratamento. Considero como a principal falha quando a cirurgia não for capaz de eliminar ou aliviar as dores do paciente que o levaram a realizar esse procedimento ou a progressão da artrose (desgaste do quadril).
Sim, isso pode ocorrer!
Através de diversas publicações internacionais, temos vários indicativos de quais situações onde a videoartroscopia de quadril pode não funcionar muito bem para um paciente com impacto femoroacetabular. Não significa que seja proibido realizar o procedimento! Significa que a chance de sucesso é menor e as vezes até tão pequena que não justifica realizar o procedimento.
O principal fator para se saber se a videoartroscopia de quadril irá funcionar é a quantidade de cartilagem que o paciente ainda possui!
Podemos comparar a preservação da cartilagem com uma floresta. Só é possível preservar uma floresta quando EXISTE floresta a ser preservada. Quando já ocorreu o desmatamento completo, já não é possível se preservar! O mesmo ocorre com a cartilagem, quando ouve o desgaste muito intenso pode ser tarde demais para ajudar essa articulação.
O papel da correção óssea realizada pela videoartroscopia de quadril é fazer com que a articulação do quadril trabalhe de forma mais suave possível. Com o mínimo de atrito possível.
Isso é realizado no momento que tornamos a cabeça femoral o mais esférica e corrigimos alterações de excesso de cobertura acetabular.
Essas correções tornam o movimento no quadril mais suave!
Diminuindo o atrito, o desgaste do quadril proveniente de movimentos anormais irá diminuir ou até estacionar!
Porém, quando uma articulação sofreu algum grau de desgaste, isso por sí só já significa um atrito maior. Pois o desgaste torna a cartilagem mais rugosa... mais áspera... e, infelizmente, não conseguimos aumentar a espessura da cartilagem... ainda!
A cada grau de desgaste articular ocorrido, diminui a chance da videoartroscopia de quadril funcionar para o tratamento do impacto femoroacetabular e para impedir a progressão deste desgaste.
Podemos concluir algumas coisas a partir dessa afirmação:
Quanto mais cartilagem o paciente tiver, melhor.
Quanto mais cedo for corrigido o impacto femoroacetabular, melhor.
Quanto mais jovem o paciente, melhor.
Quanto menos tempo de dor o paciente tiver, melhor.
Obs: Todas essas conclusões tem suporte em artigos científicos!
Nós médicos, desejamos que nossos pacientes tenham o maior índice de sucesso possível. O sucesso do paciente é o nosso sucesso. Esta premissa fez com que diversos estudos fossem publicados para identificar o paciente com maior e menor chance de sucesso na realização de uma videoartroscopia de quadril.
Tive o prazer de apresentar essa aula no Brasil, Colombia, Equador e Estados Unidos.
"Artrose e videoartroscopia de quadril - até onde?"
Nessa apresentação descrevo MUITOS ESTUDOS realizados sobre quando a videoartroscopia de quadril pode falhar e seus índices de falhas conforme o estudo. Claro que devemos levar em consideração que a medicina e a forma como realizamos esse procedimento está em constante evolução e esses índices mudam conforme o passar do tempo... mudam para melhor, em geral.
Acho que esse slide deixa claro que os pacientes com maior risco são os paciente com algum grau de artrose prévia do quadril. Seguem alguns dados dos estudos:
Pacientes que realizaram artroscopia de quadril:
Com artrose avançada = <50% de espaço articular ou < 2mm de cartilagem total, após 3 anos 82% necessitaram realizar Prótese de quadril.
Quando o espaço articular é <2mm a chance de necessidade de prótese total de quadril é 39 vezes maior que outros pacientes.
Tönnis grau 3 (classificação de artrose radiográfica, varia de 0-4), após 3 anos 82% necessitaram realizar Prótese de quadril.
Quando artrose presente chance de 79% de necessidade de realizar prótese total de quadril em 10 anos. (Não quantifica o grau da artrose)
Fica claro que na presença de ARTROSE AVANÇADA, a videoartroscopia de quadril, para alivio dos sintomas, pode durar apenas entre 2-3 anos.
Não significa que esse tratamento não possa ser realizado. Em uma população específica, como pacientes muito jovens (abaixo de 40 anos), acredito que algumas destas "barreiras" possam ser quebradas por vantagens de um público muito jovem, logo com colágeno mais hidratado.
Como diria Prof. Dr. Reinhold Ganz:
Dr. Ganz, um dos desenvolvedores, da teoria do impacto femoroacetabular, diz: "A artrose no adulto jovem é um dilema. Dilema é quando temos uma situação de escolhas difíceis entre 2 ou mais alternativas, especialmente quando todas alternativas são igualmente indesejáveis"
Isso frequentemente ocorre na medicina e na vida. Somos confrontados com situações difíceis onde nenhuma escolha é perfeita! Isso é a vida! Através da ciência e da experiência procuramos escolher as melhores opções baseadas nas melhores evidências disponíveis, mesmo que não seja perfeita. Nestas situações é imperativo a discussão conjunta com pacientes e familiares.
Em Resumo, quando um paciente possui algum grau de desgaste (artrose), algum fator que risco que possa aumentar a chance de insucesso, deve-se discutir e informar o paciente. Dessa forma pode-se tomar as decisões em conjunto de se realizar tal tratamento ou não.
Um fato curioso...
Os pacientes que mais desejam realizar a videoartroscopia de quadril na presença de artrose, mesmo que as chances de sucesso sejam menores, são os médicos! Médicos são muito apegados a sua articulação natural...